Esta versão ficcional do senzar é uma língua artística amadora, criada por Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa para representar o idioma dominante da Atlântida em uma obra de literatura fantástica (ora em andamento).
A construção da língua procura expressar o sabor dessa mítica civilização perdida na interpretação pessoal do autor, combinando influências ameríndias, européias e asiáticas.
O nome alude à língua senzar que, segundo Helena Blavatsky, fundadora da teosofia, teria sido falado em todo o mundo antes da destruição desse continente lendário.
Fonética e escrita[]
Não existe uma escrita alfabética senzar, mas os gramáticos atlantes analisam fonemicamente as palavras de sua língua como compostas de 21 consoantes e 11 vogais.
Os fonemas encontrados no senzar, de acordo com sua representação no Alfabeto Fonético Internacional são:
/b/, /d/, /dl/, /f/, /g/, /h/, /j/, /k/, /l/, /m/, /n/, /p/, /ɾ/, /s/, /t/, /tɬ/, /ʦ/, /ʃ/, /w/, /z/ e /ʔ/
E os 11 fonemas vocálicos são:
/ɑ/, /a/, /ã/, /e/, /ɛ/, /i/, /ɪ/, /o/, /ɔ/, /u/ e /ʊ/
As sílabas senzares têm a estrutura:
CV(C)
Os 34 encontros consonantais e consoantes iniciais possíveis são (com a respectiva transcrição em português):
- [b] B, b
- [d] D, d
- [dj] Di, di
- [dl] Dl, dl
- [f] F, f
- [g] G, g (sempre duro)
- [gj] Gui, gui
- [gw] Gü, gü
- [h] H, h (aspirado)
- [ʝ] J, j (fricativa palatal, alofone de [j] em início de sílaba)
- [k] K, k
- [kj] Ki, ki
- [kw] Qü, qü
- [l] L, l
- [m] M, m
- [mj] Mi, mi
- [n] N, n
- [nj] Ni, ni
- [p] P, p
- [pj] Pi, pi
- [ɾ] R, r
- [ɾj] Ri, ri
- [s] S, s
- [t] T, t
- [tj] Ti, ti
- [tɬ] Tl, tl
- [ʦ] C, c ou Ç, ç
- [ʦj] Ci, ci
- [ʃ] X, x
- [ʃj] Xi, xi
- [v] V, v (alofone de [w] em início de sílaba)
- [z] Z, z
- [zj] Zi, zi
- [ʔ] ’ (oclusão glotal, marca separação de sílabas antes de uma vogal)
As 11 vogais intermediárias possíveis são:
- [ɑ:] Ah, ah (“a” longo e aberto)
- [a] A, a (“â” curto e fechado)
- [ã:] Ã, ã (“ã” longo e nasal, também pronunciado como [aŋ])
- [e:] Eh, eh (“ê” longo e fechado)
- [ɛ] E, e (“é” curto e aberto)
- [i:] Ih, ih (longo e fechado)
- [ɪ] I, i (curto, semi-aberto)
- [o:] Oh, oh (“ô” longo e fechado)
- [ɔ] O, o ("ó" curto e aberto)
- [u:] Uh, uh ("u" longo e fechado)
- [ʊ] U, u ("u" curto, semi-aberto)
E as 9 consoantes possíveis no final (mas nem sempre as sílabas terminam por consoante) são:
- [b] B, b
- [g] G, g (sempre duro)
- [d] D, d
- [l] L, l
- [m] M, m
- [n] N, n
- [r] R, r
- [s] S, s
- [w] U, u (só no ditongo [aw], também pronunciado [av])
Nos compostos, as consoantes finais b, g, d soam como p, k, t antes de outras consoantes surdas e s soa como z antes de consoantes sonoras.
O acento tônico cai, normalmente, na última sílaba. Para evitar equívoco, a transcrição em português pode assinalá-lo com acento agudo ou circunflexo, embora seja dispensável.
Pronúncia rústica[]
Nas zonas rurais do reino de Atlântida, é comum ouvir-se as seguintes alterações em relação à pronúncia clássica:
- V é pronunciado como [w] (semivogal, representada na transliteração por W)
- J é pronunciado como [j] (semivogal, representada na transliteração por Y)
- R é pronunciado como [ɽ] (representado, na transliteração, por RH)
- C é pronunciado como [ʈʂ] (representado, na transliteração, como TS)
- X é pronunciado como [ʧ] (representado, na transliteração, por CH)
- TL é pronunciado como [tɾ] (representado, na transliteração, por TR)
- DL é pronunciado como [dɾ] (representado, na transliteração, por DR)
Escrita[]
A língua senzar usa cerca de 600 fonogramas para representar suas próprias sílabas, além de cerca de 1.000 caracteres hieroglíficos da língua cari que representam empréstimos cultos desse idioma, muito usados no vocabulário da magia, ciência e filosofia.
Morfologia[]
Em senzar, praticamente qualquer palavra pode ter várias funções gramaticais – substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, partícula etc. segundo sua posição na estrutura da frase.
Todas as sílabas do senzar são também radicais monossilábicos com significados próprios. A maioria das palavras são formadas pela composição de dois ou mais desses radicais.
Por exemplo, de:
Ke (prostituta ou prostituto)
Ar (arte)
Sin (templo)
Kon (governo, estado)
Le (fêmea)
Nan (macho)
Bau (unicórnio branco, macho ou fêmea)
Lon (unicórnio negro, macho ou fêmea)
Zi (leão ou leoa)
An (ser humano)
Formam-se:
Arleké (prostituta-artista, hetaira)
Konleké (prostituta do estado, geralmente a serviço de militares)
Sinleké (prostituta do templo, hieródula)
Nenzi (leão)
Nenbau (macho do unicórnio branco)
Lelon (fêmea de unicórnio negro)
Le’an (mulher)
Nen’an (homem)
Substantivos[]
Não existe flexão: masculino e feminino são formados pela composição com os radicais nan e le, respectivamente.
O número é especificado pelo contexto, pela composição com o radical mon (muitos, vários), ou pela composição com o radical que representa o número específico. Por exemplo:
Zimon (leões e leoas)
Nenzimon (leões machos)
Zizém (três leões)
Verbos[]
Não há conjugação verbal: a pessoa tem de ser especificada pelo pronome adequado. Tempo e aspecto são especificados por radicais adequados, por exemplo:
- qua (passar, passado) para o pretérito imperfeito
- tah ou tá (terminar, acabado) para o pretérito perfeito
- jah (ser necessário, ser inevitável) para o futuro próximo
- fad (destino, fado) para o futuro distante
- tós (estar, continuar, permanecer) para um estado que prossegue
- çar (estar no meio de, agora, estar presente) para uma ação que está em processo (presente contínuo)
- riâ (começar) para uma ação que está se iniciando
- xihn (fazer o favor) para um pedido (imperativo cortês)
- pah (ser preciso, ser devido) para uma ordem
Por exemplo:
Tlos (agarrar, apanhar, caçar)
Van (querer)
Vanquâ (queria)
Tlostah (agarrou)
Vançar (está querendo)
Tlosriâ (está agarrando)
Tlospah (agarre!)
Tlosxihn (agarre, por favor)
Pronomes[]
Pronomes pessoais
- áh - eu
- ni - você, informal
- neh - vós, formal, normalmente seguido de sufixo de tratamento (ver abaixo)
- da - ele, ela ou isso
- ça - eu e você, nós inclusivo, referindo-se a apenas duas pessoas
Um complemento de pluralidade (mon), singularidade (ad) ou dualidade (lu) é usado quando o contexto não basta para determinar singular ou plural ou se quer enfatizar o número. Por exemplo:
- ahmon - nós exclusivo, nós outros, não incluindo você
- nimon - vocês, informal
- nehmon - vós, formal
- çamon - eu e vocês, nós e você, nós e vocês, referindo-se a três ou mais pessoas
- damon - eles, elas
- ahad - só eu
- ni'ad - só você
- nilu - vocês dois
- nehad - só tu (formal)
- da'ad - só ele
- çalu - só eu e você
Um complemento de gênero pode ser acrescentado para determinar ou enfatizar essa qualidade:
- nendâ - ele (masculino)
- ledâ - ela (feminino)
- leni - você mesma (feminino)
- le'áh - eu mesma (feminino)
- le'ahmon - nós mesmas (feminino)
Pronomes demonstrativos
- tle (este, esta, esse, essa)
Sufixos de tratamento[]
Em senzar, sufixos de tratamento são freqüentemente agregados aos nomes das pessoas com as quais se fala. Em relacionamentos mais formais ou entre desconhecidos, esses sufixos são ligados ao estatuto pessoal, geralmente indicado por colares, anéis e detalhes dos trajes. O estatuto é determinado em parte pelo nascimento: uma pessoa livre que não seja de uma família real é considerada, ao nascer, como do grau hierárquico imediatamente inferior à sua mãe, até o mínimo de buciós (plebeu), tratado por -bu. Da mesma forma, outros nomes de estatutos se transformam em sufixos ao se excluir a terminação -ciós.
Conforme o desempenho escolar, a pessoa pode ser mantida no estatuto no qual nasceu, elevada ou, mais raramente, rebaixada. Conquistas notáveis e ações indignas também podem levar a uma alteração formal de estatuto, a qualquer altura da vida. Os sufixos de estatuto mais comuns, em ordem crescente de hierarquia, são -bu (plebeu), -bin (plebeu respeitável), -keh (pessoa de valor reconhecido), -quan (pessoa de mérito), -zor (quase nobre), -cio, -zeh e -hin (graus da pequena nobreza, aproximadamente cavaleiro, mestre e baronete).
Acima disso, existem seis graus de alta aristocracia: -nem, -cih, -pas, -ho, -kun e –vah (aproximadamente, barão, visconde, conde, marquês, duque e grão-duque) e os da realeza hereditária: -kal (integrante de uma família real), -tar (rei), -quahr (membro da família imperial) e -vatar (imperador).
Abaixo, os graus de servidão: -pos, -nu, -rar e -var. Posciós é um estatuto de vassalagem ou servidão parcial, em geral adotado voluntariamente por pessoas que desejam a proteção de um atlante mais poderoso ou simplesmente adulá-lo. Nuciós é um estatuto servil, mas com relativa dignidade, geralmente usado por servos de valor. Rarciós é um escravo comum. Varciós é um estatuto de degradação extrema, geralmente imposto como pena para crimes muito graves, no qual o indivíduo é totalmente despido de personalidade jurídica e de direitos – torna-se uma não-pessoa, uma cabeça de gado para efeitos jurídicos.
Pessoas mais chegadas podem dispensar o sufixo de estatuto, substituído pelos sufixos -xin (para um ou uma amante), -ar (para um parente próximo, de sangue ou adotivo), -bã (querido amigo ou amiga) e -pu (colega, sócio, camarada, ou qualquer pessoa que se quer tratar de igual para igual).
Seria possível traduzir -keh por “Senhor” ou “Senhora”, -quan por “Dom” ou “Dona”, -xin por “meu amor” e assim por diante, mas isso nem sempre transmite as conotações dadas a esses sufixos.
Cônjuges e familiares próximos não compartilham necessariamente do mesmo estatuto, mas é polido chamá-los pelo sufixo do parente próximo de estatuto mais elevado que esteja vivo, agregado de uma partícula que define o parentesco: bor- (cônjuge), ihn- (irmão ou irmã), ci- (filho, filha ou descendente direto), ou xan- (pai, mãe ou ascendente direto).
Se um quanciós chamado Zi Temtés Sistu (ver abaixo sobre Nomes Próprios) casar-se com uma mulher de estatuto mais elevado – zehciós, por exemplo – poderá ser chamado borzehciós (esposo de zeciós) e tratado como Zi-borzeh. Se, em vez disso, for seu filho ou neto quem atingir esse estatuto, poderá ser chamado xanzehciós (pai de zeciós) e tratado como Zi-xanzeh. Caso seu filho ou neto seja de estatuto inferior ao seu, esse filho ou neto poderá ser chamado (se for do mesmo clã) ciquanciós e tratado como Zi-ciquan. Na prática, portadores dessas partículas são tratados em sociedade como de estatuto ligeiramente inferior ao do parente de estatuto mais elevado, mas não gozam dos mesmos direitos civis e políticos que este e perdem o privilégio social caso o parente venha a falecer ou perder seu estatuto.
O lugar-tenente ou imediato de um soberano, alto funcionário ou comandante militar de grau elevado, independentemente de seu estatuto real, é designado com a partícula xi- e tratado como ligeiramente inferior ao seu chefe. Assim, se Sistu for designado vice-rei pelo imperador, provavelmente já terá sido antes elevado a vaciós e terá direito a ser chamado Zi-va, mas na condição de vice-rei será tratado como Zi-xivatar.
Usar um sufixo que pressupõe uma amizade ou intimidade não reconhecida pelo outro é desrespeitoso. Dispensar o sufixo é aceitável no meio de uma conversa relaxada, se o estatuto e a natureza do relacionamento estiverem bem claros, mas em uma conversa mais tensa ou formal sugere hesitação quanto à natureza da relação com o interlocutor, ou dúvida em relação ao estatuto que o outro de fato merece. Usar explicitamente um sufixo de estatuto inferior ao devido é ofensa grave, salvo equívoco desculpável de um estrangeiro não iniciado nos costumes locais, promoção recente ou falta de insígnias reconhecíveis. Na dúvida, é preferível conferir a um estranho um estatuto mais elevado do que o aparente e transferir-lhe o dever de corrigi-lo, se for o caso.
Nomes próprios[]
Os indivíduos usam nomes triplos: nome do clã, seguido pelo nome da família e depois pelo nome pessoal. Nomes de clãs senzares derivam geralmente de nomes de animais, plantas ou fenômenos naturais; os de família, de alguma característica ou feito notável do ancestral tido como fundador da família. Nomes pessoais são mais ou menos arbitrários e podem ser livremente inventados, ou homenagear um herói, amigo ou parente morto.
Assim, um senzar chamado Zi Temtés Sistu (clã Zi, ou “leão”, família Temtés, “que resiste ao inimigo”, nome pessoal Sistu, “pântano oriental”, nome freqüente entre pessoas que vivem no leste da planície de Atlântida), que tenha o estatuto de quanciós, é chamado nos contextos mais formais de Zi-quan pela maioria das pessoas (inclusive subordinados), Temtés-quan por integrantes de outra família do mesmo clã e Sistu-quan por familiares. Em momentos menos formais, outras pessoas também o chamarão de Sistu-quan, mas só os realmente próximos o chamarão Sistu-pu, Sistu-ar ou Sistu-bã.
Numerais[]
- âd (um, unidade)
- é ou lu (dois) (*)
- zem (três)
- zih (quatro)
- u (cinco)
- rog (seis)
- xad (sete)
- pod (oito)
- kó (nove)
- sab (dez)
- 0 lin (zero)
- 100 bâs (cem)
- 1.000 xen (mil)
- 10.000 men (dez mil)
- ½ pon (meio, metade)
- mon (vários, três ou mais)
(*) A palavra lu é usada apenas para pares complementares (mãos, pés, orelhas, luvas, sandálias etc.); como ordinal, significa "segundo e último".
Os numerais cardinais seguem normalmente o substantivo que qualificam, inclusive em compostos. Quando um numeral precede o substantivo (o que ocorre principalmente em compostos), isso quase sempre é o resultado da abreviação de um composto mais complexo. Por exemplo:
- zemrem, literalmente "três-belonave", é a contração de (ber)zemrem, "belonave de três equipes", porque as tripulações dos navios de guerra atlantes são tradicionalmente divididos em grupos de 50 a 80 tripulantes.
- mentôh, literalmente "dez mil - comandante", é a contração de (ze)mentôh, "comandante de dez mil guerreiros", "comandante de legião", general.
Posposições[]
O senzar usa posposições em vez de preposições, ou seja, essas palavras vêm depois e não antes daquelas que relacionam. Por exemplo, xu - "origem", "ponto de partida", "desde". Exemplo:
- Ah-quan Kihn-xu larquâ
Tradução literal:
- Eu-quan capital-desde vir-acabei.
Tradução livre:
- Eu (um quâncios) acabo de chegar da capital (Atlântida).
Sintaxe[]
A ordem normal da frase é SOV (sujeito, objeto, verbo). Por exemplo:
Nenzi bau tlostah
Literalmente: Leão unicórnio agarrou (o leão caçou um unicórnio branco).
O adjetivo vem antes do substantivo, mas os numerais vêm depois.
O objeto indireto normalmente vem antes do objeto direto. Pode vir em outra posição se seguido do verbo-posposição gab (beneficiar, em prol de), ou se o contexto for claro. Por exemplo:
Ah ni-bã kem âd ka-vançar, ou:
Ah kem âd ni-bã-gab ka-vançar.
Literalmente:
Eu te-amigo espada-uma dar-querendo, ou:
Eu espada-uma te-amigo-benefício dar-querendo.
Em tradução livre:
Eu quero dar uma espada a ti, amigo.
Como nesse caso, há outros radicais que podem ser usados como posposições (equivalente a preposição, mas posterior ao complemento) ou conjunções. Servem principalmente para assinalar a função gramatical de uma palavra ou frase quando a construção é complicada ou pouco usual, ou para enfatizar uma relação.
Por exemplo, possessivos freqüentemente são formados por simples anteposição do determinante, mas quando não podem ser facilmente depreendidos do contexto, ou quando se deseja enfatizar a relação de propriedade, podem ser formados por composição com o radical tis (pertencer, propriedade). Por exemplo:
Zi Sin (templo do Leão, ou seja, do totem do clã que tem esse nome)
Zitis Sin (templo que é do Leão)
Frases comuns, frases feitas e provérbios costumam dispensar todo tipo de partícula, bem como marcadores de tempo, aspecto, número etc. O entendimento fica a cargo da convenção ou do contexto. Por exemplo:
Lelon van, Nenzi tlos
Literalmente: Unicórnia querer, Leão agarrar (O leão só agarra a unicórnia negra se ela quiser). Trata-se de um provérbio que expressa a percepção senzar de que cabe à mulher a última palavra nas relações amorosas.